“Acreditamos, porém, na
diluição de nossa ostensiva ‘inexperiência democrática’, a pouco e pouco
abalada pela força das novas condições faseológicas brasileiras, inauguradas
com os primeiros surtos de industrialização do país e que vem implicando a
substituição de nossas estruturas coloniais. ‘Inexperiência’ que será substituída
por outra forma de experiência – a da ‘dialogação’, da ‘parlamentarização’, em
consonância com o clima cultural novo, que vem ampliando incoercivelmente as
áreas de participação do povo.
Daí, para nós, o nosso
grande problema está em sabermos dar um passo. Dar o passo da
‘assistencialização’ para a ‘dialogação’. Dar o passo da autoridade externa,
impermeável e autoritária, rígida e antidemocrática, que nos marcou
intensamente, para a autoridade interna, permeável, crítica, plástica,
democrática. O problema está, então, em ‘introjetarmos’
a autoridade externa e darmos nascimento à autoridade interna, à razão ou à
consciência transitivo-crítica, indispensável à democracia. Alguns dos
descompassos de nossa vida democrática ainda estão situados aí: no descompasso
entre a autoridade externa que nossa ‘inexperiência democrática’ insiste ainda
em enfatizar e a interna, que ainda não chegou a corporificar-se. Estamos,
assim, vivendo um momento também difícil, chamado de crítico, precisamente
porque de transição. Daí insistirmos tanto nas relações de organicidade do
nosso processo educativo com a nossa atualidade tão rica de contrários, no
sentido de diminuí-los. Sobretudo no sentido de ajudar, em conexão com o clima
cultural presente, a incorporação, na experiência do homem brasileiro, de
formas de vida democráticas” (Paulo Freire. Educação
e Atualidade Brasileira, p. 78)
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