Sugestões bibliográficas

domingo, 18 de novembro de 2012

Agradecimento, Certificados e Informes


Olá, pessoal!
Agradeço a participação de vocês no curso. Espero que o curso tenha contribuído na formação e reflexão de cada um e incentivado ao aprofundamento do estudo sobre o pensamento freireano e seus temas. Aproveito para dar os últimos informes.
1) Certificados. Aquelas pessoas que frequentaram, no mínimo, 3 encontros têm direito ao certificado, que será emitido pela PROCEV e disponibilizado na Secretaria da Filosofia. Avisarei quando os certificados ficarem prontos. Confiram a lista abaixo.
2) Blog. Atualizações foram realizadas e alguns dos textos utilizados durante o curso estão no blog. Vejam as novas postagens:   
TEXTO 1: Otimismo com o processo de democratização da sociedade brasileira
TEXTO 2: Consciência ingênua e consciência crítica
ESCOLANOVISMO: Educação e Democracia
PSICOLOGIA SOCIAL: Esquema mental democrático (Zevedei Barbu)
Diálogo (Paulo Freire)
Libertação (Paulo Freire)
3) Disciplina eletiva. Oferecerei neste semestre, pelo Departamento de Filosofia, uma disciplina eletiva que talvez interesse a alguns (atenção para o novo nome). Dados:
Disciplina: Questões Filosóficas: Pedagogia do Oprimido (Paulo Freire)
Ementa: Abordagem sistemática da obra Pedagogia do Oprimido, de Paulo Freire. Contextualização histórica e teórica. Análise estrutural, temática e interpretativa. Repercussões do pensamento freireano e diálogos possíveis com outras teorias e práticas sociais.
Dia/horário: quinta-feira, de 19 às 22:30h  
Carga horária: 60h/a
4) Pasta xerox. Organizarei a pasta xerox do curso encadernando-a e colocando um índice e uma pequena introdução sobre cada texto.

No mais, bom descanso antes do reinício das aulas. Até uma próxima oportunidade.


Certificados
1) Aline Martins de Oliveira
2) Allison Ribeiro e Silva
3) Ângela Maria de Campos
4) Babysi Weni Silva
5) Beatriz Cristina Abraão Ferreira
6) Edilene Candida Ribeiro
7) Edineuza Cândido Ribeiro
8) Elaine Fernandes Pereira
9) Emanuela Nunes Duarte
10) Fernanda M. Luz Rondon
11) Fernanda Paula Menichini Paixão
12) Glenda Taiara Almeida Elias
13) Henrique Souza Camargos
14) Iran Dias Costa
15) Izaura Maria da Silva C. Ventura
16) Jaime Alves de Carvalho
17) Larissa Pedroso Reis
18) Ligia Alves de Moraes Morresque
19) Luciana Ferreira da Silva Moraes
20) Luciana Rodrigues Pereira
21) Lucimar Trindade Bigolin
22) Maciel Gomes dos Santos
23) Maria Elvira N. Sá e Silva Marques
24) Maria de Fátima Corrêa
25) Neuza Cristina Gomes da Costa
26) Rodrigo Barcelo de Amorim
27) Rosângela Ramos Roldan
28) Roseméri Prates da Costa
29) Sheila Cristina de Toledo
30) Silbene Meira de Arruda
31) Silvio Takeshi Tamura
32) Sônia Cristina Campos Oliveira
33) Tayla de Queiroz Silva
34) Thays Barbosa Marinho

Tamires Siqueira de Oliveira (equipe de execução)

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Libertação (Paulo Freire)


15º Carta: O processo de libertação: a luta dos seres humanos para a realização do ser mais
[...]
Desde os inícios, até mesmo no tempo mais indeciso, quase nebuloso, em que começava a visualizar o processo de libertação, jamais pude entendê-lo como expressão da luta individual dos homens e das mulheres, mas, por outro lado, sempre recusei a inteligência dele como fenômeno puramente social no qual se diluísse o indivíduo, manifestação pura da classe.
Pelo contrário, complexo e plural, o processo de libertação se envolve com quantas dimensões marquem fundamentalmente o ser humano: a classe, o sexo, a raça, a cultura.
Da mesma forma como jamais pude aceitar que a luta de libertação pudesse ser restringida à briga de indivíduos, jamais aceitei também que ela pudesse ser reduzida à luta das mulheres contra os homens, dos negros contra os brancos. A luta é dos seres humanos pelo ser mais. Pela superação dos obstáculos à real humanização de todos. Pela criação de condições estruturais que tornem possível o ensaio de uma sociedade mais democrática. A luta não é, como disse na carta anterior, e vale a pena repetir, por uma sociedade democrática a tal ponto perfeita que suprimisse, de uma vez por todas, o machismo, o racismo e a exploração de classe. A luta é pela criação de uma sociedade civil capaz de falar, de protestar e sempre disposta a lutar pela realização da justiça. A luta, afinal, não é pela santificação de homens e de mulheres, mas pelo reconhecimento deles e delas como gente finita, inacabada, histórica, por isso mesmo capaz de, negando a bondade, tornar-se malvada; mas, reconhecendo a bondade, tornar-se amorosa e justa.
É bem verdade que na luta de libertação não é possível esquecer ou minimizar aspectos específicos que caracterizam as relações mulher-homem, negro-branco, classe trabalhadora-classe dirigente. Mas, para mim, o reconhecimento dessas especificidades não é suficiente para que nenhum dos grupos de contradição se converta no focus do processo e esgote a importância dos outros. No fundo, não posso reduzir a luta das mulheres à luta de classe, a luta contra a opressão da branquitude à luta de classes também, mas, por outro lado, não posso prescindir da compreensão do papel das classes sociais, mesmo numa sociedade tão complexa quanto a norte-americana, para o meu entendimento do racismo e do machismo. Para as próprias táticas de minha luta.
Às vezes me criticam porque, dizem, eu não dei atenção às situações em que, ambíguos, os indivíduos se experimentam como oprimidos e, em seguida, como opressores. Em primeiro lugar, devo dizer que me tenho referido a essa ambiguidade, até com insistência, em diferentes textos, quando discuto as virtudes dos educadores e das educadoras progressistas. Entre essas virtudes saliento a coerência que, exigindo de nós humildade, sublinha no nosso comportamento a contradição de nossa opção verbalizada. Fazemos um discurso progressista e temos uma prática reacionária. É o caso, por exemplo, de uma professora que, lutando contra a discriminação machista, tem, contudo uma prática pedagógica opressiva. Na sua tarefa pedagógica de orientar estudantes pós-graduados na produção de suas teses se comporta de tal maneira autoritariamente que pouco espaço para criar e para se aventurar intelectualmente lhes resta. Esta professora hipotética, mas muito fácil de ser encontrada, é a um tempo oprimida e a outro opressora. É uma incoerente. A sua luta contra a violência machista perde a força e vira um blábláblá inconsequente. Para a autenticidade de sua luta ela necessita superar a incoerência e, assim, ultrapassando o blábláblá, diminuir a distância entre o que diz e o que faz. [...]

Paulo Freire. Cartas a Cristina

Diálogo (Paulo Freire)



Paulo Freire. Educação como prática da liberdade. (cap. 4, p. 107. 16ª ed.)

         E que é o diálogo? É uma relação horizontal de A com B. Nasce de uma matriz crítica e gera criticidade (Jaspers). Nutre-se do amor, da humildade, da esperança, da fé, da confiança. Por isso, só o diálogo comunica. E quando os dois polos do diálogo se ligam assim, com amor, com esperança, com fé um no outro, se fazem críticos na busca de algo. Instala-se, então, uma relação de simpatia entre ambos. Só aí há comunicação.


Paulo Freire. Pedagogia do oprimido (cap. 3, p. 89-91. 42ª Ed.)

Quando tentamos um adentramento no diálogo, como fenômeno humano, se nos revela algo que já poderemos dizer ser ele mesmo: a palavra. Mas, ao encontrarmos a palavra, na análise do diálogo, como algo mais que um meio para que ele se faça, se nos impõe buscar, também, seus elementos constitutivos.
Esta busca nos leva a surpreender, nela, duas dimensões; ação e reflexão, de tal forma solidárias, em uma interação tão radical que, sacrificada, ainda que em parte, uma delas, se ressente, imediatamente, a outra. Não há palavra verdadeira que não seja práxis[1]. Daí, que dizer a palavra verdadeira seja transformar o mundo[2].
A palavra inautêntica, por outro lado, com que não se pode transformar a realidade, resulta da dicotomia que se estabelece entre seus elementos constituintes. Assim é que, esgotada a palavra de sua dimensão de ação, sacrificada, automaticamente, a reflexão também, se transforma em palavreria, verbalismo, blablablá. Por tudo isto, alienada e alienante. É uma palavra oca, da qual não se pode esperar a denúncia do mundo, pois que não há denúncia verdadeira sem compromisso de transformação, nem este sem ação.
Se, pelo contrário, se enfatiza ou exclusiviza a ação, com o sacrifício da reflexão, a palavra se converte em ativismo. Este, que é ação pela ação, ao minimizar a reflexão, nega também a práxis verdadeira e impossibilita o diálogo.
Qualquer destas dicotomias, ao gerar-se em formas inautênticas de existir, gera formas inautênticas de pensar, que reforçam a matriz em que se constituem.
A existência, porque humana, não pode ser muda, silenciosa, nem tampouco pode nutrir-se de falsas palavras, mas de palavras verdadeiras, com que os homens transformam o mundo. Existir, humanamente, é pronunciar o mundo, é modificá-lo. O mundo pronunciado, por sua vez, se volta problematizado aos sujeitos pronunciantes, a exigir deles novo pronunciar.
Não é no silêncio[3] que os homens se fazem, mas na palavra, no trabalho, na ação-reflexão.
Mas, se dizer a palavra verdadeira, que é trabalho, que é práxis, é transformar o mundo, dizer a palavra não é privilégio de alguns homens, mas direito de todos os homens. Precisamente por isto, ninguém pode dizer a palavra verdadeira sozinho, ou dizê-la para os outros, num ato de prescrição, com o qual rouba a palavra aos demais.
O diálogo é este encontro dos homens, mediatizados pelo mundo, para pronunciá-lo, não se esgotando, portanto, na relação eu-tu.
Esta é a razão por que não é possível o diálogo entre os que querem a pronúncia do mundo e os que não a querem; entre os que negam aos demais o direito de dizer a palavra e os que se acham negados deste direito. É preciso primeiro que, os que assim se encontram negados no direito primordial de dizer a palavra, reconquistem esse direito, proibindo que este assalto desumanizante continue.
Se é dizendo a palavra com que, “pronunciando” o mundo, os homens o transformam, o diálogo se impõe como caminho pelo qual os homens ganham significação enquanto homens.
Por isto, o diálogo é uma exigência existencial. E, se ele é o encontro em que se solidariza o refletir e o agir de seus sujeitos endereçados ao mundo a ser transformado e humanizado, não pode reduzir-se a um ato de depositar ideias de um sujeito no outro, nem tampouco tornar-se simples troca de ideias a serem consumidas pelos permutantes.
Não é também discussão guerreira, polêmica, entre sujeitos que não aspiram a comprometer-se com a pronúncia do mundo, nem com buscar a verdade, mas com impor a sua.
Porque é encontro de homens que pronunciam o mundo, não deve ser doação do pronunciar de uns a outros. É um ato de criação. Daí que não possa ser manhoso instrumento de que lance mão um sujeito para a conquista do outro. A conquista implícita no diálogo é a do mundo pelos sujeitos dialógicos, não a de um pelo outro. Conquista do mundo para a libertação dos homens.



Paulo Freire. Pedagogia da esperança (p. 118-19. 12ª Ed.)

         O diálogo entre professoras ou professores e alunos ou alunas não os torna iguais, mas marca a posição democrática entre eles ou elas. Os professores não são iguais aos alunos por n razões entre elas porque a diferença entre eles os faz ser com estão sendo. Se fossem iguais, um se converteria no outro. O diálogo tem significação precisamente porque os sujeitos dialógicos não apenas conservam sua identidade, mas a defendem e assim crescem um com o outro. O diálogo, por isso mesmo, não nivela, não reduz um ao outro. Nem é favor que se faz ao outro. Nem é tática manhosa, envolvente, que um usa para confundir o outro. Implica, ao contrário, um respeito fundamental dos sujeitos nele engajados, que o autoritarismo rompe ou não permite que se constitua. Assim também a licenciosidade, de forma diferente, mas igualmente prejudicial.
         Não há diálogo no espontaneísmo como no todo-poderosismo do professor ou da professora. A relação dialógica, porém, não anula, como às vezes se pensa, a possibilidade do ato de ensinar. Pelo contrário, ela funda este ato, que se completa e se sela no outro, o de aprender[4], e ambos só se tornam verdadeiramente possíveis quando o pensamento crítico, inquieto, do educador ou da educadora não freia a capacidade de criticamente também pensar ou começar a pensar do educando. Pelo contrário, quando o pensamento crítico do educador ou da educadora se entrega à curiosidade do educando. Se o pensamento do educador ou da educadora anula, esmaga, dificulta o desenvolvimento do pensamento dos educandos, então o pensar do educador, autoritário, tende a gerar nos educandos sobre quem incide, um pensar tímido, inautêntico ou, às vezes, puramente rebelde.
         O diálogo, na verdade, não pode ser responsabilizado pelo uso distorcido que dele se faça. Por pura imitação ou por sua caricatura. O diálogo não pode converter-se num ‘bate-papo’ desobrigado que marche ao gosto do acaso entre professor ou professora e educandos.
         O diálogo pedagógico implica tanto o conteúdo ou objeto cognoscível em torno de que gira quanto a exposição sobre ele feita pelo educador ou educadora para os educandos.


[1]                      (ação)
Palavra --------------------------- = Práxis
                    (reflexão)
                     (da ação) = palavreria, vebalismo, blablablá
Sacrifício ----------------------------------------------------------
                            (de reflexão) = ativismo.
[2] Algumas destas reflexões nos foram motivadas em nossos diálogos com o prof. Ernani Maria Fiori.
[3] Não nos referimos, obviamente, ao silêncio das meditações profundas em que os homens, numa forma só aparente de sair do mundo, dele “afastando-se" para “admirá-lo” em sua globalidade, com ele, por isto, continuam. Daí que estas formas de recolhimento só sejam verdadeiras quando os homens nela se encontrem "molhados” de realidade e não quando, significando um desprezo ao mundo, sejam maneiras de fugir dele, numa espécie de “esquizofrenia histórica”.

[4] Ver, a este respeito, Nicol, Eduardo, Los princípios de la ciencia, México, Fondo de Cultura Económica, 1965.

PSICOLOGIA SOCIAL: Esquema mental democrático (Zevedei Barbu)


“O que na realidade queremos dizer ao afirmar que a democracia constitui uma realidade psicológica é que qualquer instituição democrática, e qualquer organização democrática, está elaborada por uma série de inclinações, sentimentos, convicções e hábitos de pensamento na mente dos indivíduos, muito antes de sua realização histórica. Em um determinado período e em um determinado contexto histórico esses elementos mentais se traduzem em instituições e modos de conduta social que, em conjunto, constituem uma sociedade democrática e uma forma democrática de vida. [...]. Estamos dispostos a chegar mais longe e afirmar que quando este esquema mental está ausente as instituições democráticas não podem desenvolver-se; se tais instituições são introduzidas de fora o mais provável é que resultem mutiladas ou desapareçam por completo ao fim de um breve tempo. [...]. A democracia surge de seu próprio solo. Isto significa que requer experiências específicas e mudanças mentais específicas em uma comunidade antes de surgir como realidade histórica. [...]. E é a integração de tais fatores (hábitos mentais e experiências concretas de uma sociedade aberta e flexível) em uma totalidade o que constitui o extrato básico de um esquema mental e um tipo de personalidade que cabe denominar democráticos” 
(Z. Barbu. Psicología de la Democracia e de la Dictadura, p. 30-31).

ESCOLANOVISMO: Educação e Democracia


“Mas a democracia é, acima de tudo, um modo de vida, uma expressão ética da vida, e tudo leva a crer que o homem nunca se encontrará satisfeito com alguma forma de vida social que negue essencialmente a democracia. Dois deveres se depreendem dessa tendência moderna [a democracia] e se refletem profundamente em educação: o homem deve ser capaz, deve ser uma individualidade, e o homem deve sentir-se responsável pelo bem social. Personalidade e cooperação são os dois polos dessa nova formação humana que a democracia exige. Essas tendências [nova mentalidade, industrialismo, democracia] da civilização atuam sobre a escola no sentido de sua transformação. Graças ao desenvolvimento da ciência e sua aplicação à vida humana, não só as condições materiais da vida mudam, dia a dia, como a própria visão do homem sobre a vida. Acima de qualquer outro aspecto, ressalta, quanto a esse ponto, o desapego aos velhos sistemas autoritários do passado, sejam eles tradicionais ou religiosos. [...]. A noção atual de liberdade envolve, caracteristicamente, a capacidade de se orientar exclusivamente por uma autoridade interna. Nenhuma autoridade exterior é hoje aceita. As ideias e os fatos são examinados nos seus méritos e resolvidos de acordo com as luzes da razão de cada um. Esse novo homem, com hábitos novos de adaptabilidade e ajustamento, não pode ser formado pela maneira estática da escola tradicional que desconhecia o fato maior da vida contemporânea: a progressão geométrica com que a vida está a mudar, desde que se abriu o ciclo de aplicação da ciência a vida. Podemos perceber a nova finalidade da escola, quando refletimos que ela deve hoje preparar cada homem para ser um indivíduo que pense e que se dirija por si em uma ordem social, intelectual e industrial eminentemente complexa e mutável. [...].
Primeiro, a escola deve prover a oportunidade para a prática da democracia – o regime social em que cada indivíduo conta plenamente como uma pessoa. Democracia na escola importa em democracia para o mestre e democracia para o aluno, isto é, um regime que procure dar ao mestre e aos alunos o máximo de direção própria e participação nas responsabilidades de sua vida econômica. Segundo, como democracia é acima de tudo o modo moral da vida do homem moderno, a sua ética social, a criança deve ganhar através da escola esse sentido de independência e direção que lhe permita viver com outros com a máxima tolerância, sem, entretanto, perder a personalidade. Devemos ter sempre presente que a escola não vai dar soluções já feitas à nossa juventude. Tudo que podemos fazer é dar-lhe método e juízo, para lutar com os problemas que vai encontrar, e o sentido da responsabilidade social que lhe assiste na solução desses problemas” (Anísio Teixeira. Pequena introdução à filosofia da educação, p. 44-45; 48-49)

TEXTO 2: Consciência ingênua e consciência crítica


São dois os gêneros de pensar, que definiremos como se segue: a consciência ingênua é, por essência, aquela que não tem consciência dos fatores e condições que a determinam. A consciência crítica é, por essência, aquela que tem clara consciência dos fatores e condições que a determinam. [...]. Deste modo, enquanto uma [a consciência ingênua] profere as suas sentenças em caráter dogmático, incorrendo na privação completa de comunicação reveladora, e se marca pela incapacidade de percepção da mutabilidade das coisas e dos valores, pela falta de simpatia com o que se prenuncia no tempo e pela recusa de aceitação do novo instalado em lugar do dessueto, a outra [a consciência crítica] é eminentemente sensível ao ritmo das transformações do mundo, dócil à compreensão da inevitável queda e nascimento dos valores, acolhedora de todas as medidas que se proponham modificar as condições materiais da vida. [...]. Sabendo-se variável, expressão de uma conjuntura histórica, a consciência crítica procede à permanente investigação dos seus determinantes materiais e se constitui, por isso, em consciência adequada a promover a autêntica ideologia do desenvolvimento nacional. (Álvaro Vieira Pinto. Consciência e Realidade Nacional, vol. I, p. 83-90)

TEXTO 1: Otimismo com o processo de democratização da sociedade brasileira


“Acreditamos, porém, na diluição de nossa ostensiva ‘inexperiência democrática’, a pouco e pouco abalada pela força das novas condições faseológicas brasileiras, inauguradas com os primeiros surtos de industrialização do país e que vem implicando a substituição de nossas estruturas coloniais. ‘Inexperiência’ que será substituída por outra forma de experiência – a da ‘dialogação’, da ‘parlamentarização’, em consonância com o clima cultural novo, que vem ampliando incoercivelmente as áreas de participação do povo.
Daí, para nós, o nosso grande problema está em sabermos dar um passo. Dar o passo da ‘assistencialização’ para a ‘dialogação’. Dar o passo da autoridade externa, impermeável e autoritária, rígida e antidemocrática, que nos marcou intensamente, para a autoridade interna, permeável, crítica, plástica, democrática. O problema está, então, em ‘introjetarmos’ a autoridade externa e darmos nascimento à autoridade interna, à razão ou à consciência transitivo-crítica, indispensável à democracia. Alguns dos descompassos de nossa vida democrática ainda estão situados aí: no descompasso entre a autoridade externa que nossa ‘inexperiência democrática’ insiste ainda em enfatizar e a interna, que ainda não chegou a corporificar-se. Estamos, assim, vivendo um momento também difícil, chamado de crítico, precisamente porque de transição. Daí insistirmos tanto nas relações de organicidade do nosso processo educativo com a nossa atualidade tão rica de contrários, no sentido de diminuí-los. Sobretudo no sentido de ajudar, em conexão com o clima cultural presente, a incorporação, na experiência do homem brasileiro, de formas de vida democráticas” (Paulo Freire. Educação e Atualidade Brasileira, p. 78)