“Mas
a democracia é, acima de tudo, um modo de vida, uma expressão ética da
vida, e tudo leva a crer que o homem nunca se encontrará satisfeito com alguma
forma de vida social que negue essencialmente a democracia. Dois deveres se
depreendem dessa tendência moderna [a democracia] e se refletem profundamente
em educação: o homem deve ser capaz, deve ser uma individualidade, e o homem
deve sentir-se responsável pelo bem social. Personalidade e cooperação são os
dois polos dessa nova formação humana que a democracia exige. Essas tendências
[nova mentalidade, industrialismo, democracia] da civilização atuam sobre a
escola no sentido de sua transformação. Graças ao desenvolvimento da ciência e
sua aplicação à vida humana, não só as condições materiais da vida mudam, dia a
dia, como a própria visão do homem sobre a vida. Acima de qualquer outro
aspecto, ressalta, quanto a esse ponto, o desapego aos velhos sistemas
autoritários do passado, sejam eles tradicionais ou religiosos. [...]. A noção
atual de liberdade envolve, caracteristicamente, a capacidade de se orientar
exclusivamente por uma autoridade interna.
Nenhuma autoridade exterior é hoje aceita. As ideias e os fatos são examinados
nos seus méritos e resolvidos de acordo com as luzes da razão de cada um. Esse
novo homem, com hábitos novos de adaptabilidade e ajustamento, não pode ser
formado pela maneira estática da escola tradicional que desconhecia o fato
maior da vida contemporânea: a progressão geométrica com que a vida está a
mudar, desde que se abriu o ciclo de aplicação da ciência a vida. Podemos
perceber a nova finalidade da escola, quando refletimos que ela deve hoje
preparar cada homem para ser um indivíduo que pense e que se dirija por si em
uma ordem social, intelectual e industrial eminentemente complexa e mutável.
[...].
Primeiro,
a escola deve prover a oportunidade para a prática da democracia – o regime
social em que cada indivíduo conta plenamente como uma pessoa. Democracia na
escola importa em democracia para o mestre e democracia para o aluno, isto é,
um regime que procure dar ao mestre e aos alunos o máximo de direção própria e
participação nas responsabilidades de sua vida econômica. Segundo, como
democracia é acima de tudo o modo moral da vida do homem moderno, a sua ética
social, a criança deve ganhar através da escola esse sentido de independência e
direção que lhe permita viver com outros com a máxima tolerância, sem,
entretanto, perder a personalidade. Devemos ter sempre presente que a escola
não vai dar soluções já feitas à nossa juventude. Tudo que podemos fazer é
dar-lhe método e juízo, para lutar com os problemas que vai encontrar, e o
sentido da responsabilidade social que lhe assiste na solução desses problemas”
(Anísio Teixeira. Pequena introdução à
filosofia da educação, p. 44-45; 48-49)
Paulo freire,seus escritos são ótimos.
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